LÍNGUAS ESTRANHAS - Parte 2
LÍNGUAS ESTRANHAS - Parte 2
INTRODUÇÃO
Quando o assunto é o Dom de Línguas temos duas correntes, duas formas de pensamento completamente distintas e conflitantes. A primeira delas é enxergar o Dom como línguas de nações, dialetos pátrios. A segunda é visualisar nesse Dom do Espírito as famosas Línguas dos Anjos, a Língua do Espírito Santo. Há ainda os que defendem a ideia dos dois tipos.
A duas posições precisam ser avaliadas à partir do texto Bíblico, à luz da Inspiração que temos.
Três textos de Atos são cruciais para se entender o assunto. O primeiro é Atos 2, o Pentecostes. O segundo é Atos 10, a conversão do Centurião Cornélio. E o terceiro, Atos 19, o rebatismo dos discípulos de Éfeso.
Faremos as seguintes perguntas aos textos: as línguas faladas, são línguas de homens ou de anjos? São línguas de nações ou do céu? E deixemos o Texto responder.
ATOS 2
Temos em Atos 2 a festa de Pentecostes (v.1) e estavam todos reunidos em um "mesmo lugar", provavelmente "cento e vinte pessoas" (Atos 1:15). O verso 4 diz que "todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas". A pergunta a ser feita ao texto é: que língua falaram? Falaram a língua dos Anjos ou dos homems? Falaram a língua do céu ou da terra?
No verso 4, ainda, temos a expressão grega έτέραιs γλώσσαιs que precisa ser analisada. Έτεροs é um adjetivo, um qualificador. Está na forma Dativa, feminina e plural. O dicionário o traduz como "outro", mas outro no sentido de diferente, enquanto Άλλοs seria outro no sentido de igual. Temos ainda o substantivo γλώσσα, substantivo feminino que significa tanto língua (literalmente) como parte do corpo, como língua no sentido de idioma. A palavra sinonima de γλώσσα é Διάλεκτος, substantivo feminino que significa dialeto, idioma, língua de nação.
Analisando a expressão completa έτέραιs γλώσσαιs temos o seguinte siginificado: outro idioma no sentido de diferente do falado por eles, os discípulos. E como os discípulos falavam, em sua maioria, o Aramáico, língua da Galiléia (v. 7), passaram, nesse momento, nesse evento, a falar outros idiomas diferentes do idioma materno deles.
Em resposta à nossa pergunta, verificamos que, no Pentecostes, as línguas faladas eram outras línguas, outros idiomas diferentes da língua materna dos discípulos. Ou seja, língua de homens e não de anjos, línguas de nações e não do céu.
Fica ainda uma pergunta no ar: que língua falaram? O texto responde a essa pergunta à frente.
O verso 5 diz que, por conta da festa, "estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo dos céus". Ora, havia, numa mesma cidade, vários idiomas reunidos. Os versos 9, 10 e 11 listam pelo menos 14 nacionalidades, cada uma com seu idioma. Essas são as "outras línguas" que o Espírito concedeu que falassem (v.4). Não eram línguas do céu mas "das nações debaixo do céu", não eram línguas de Anjos, mas de homens.
O verso 6 descreve um momento crucial para o entendimento do assunto. Os que estavam presentes quando o evento aconteceu ficaram possuídos de perplexidade e o texto diz que "cada um os ouvia falar na sua própria língua". Esse "cada um" se refere aos que estavam habitando em Jerusalém: "judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu". E com a expressão "todas as nações debaixo do céu" pode-se entender a lista dos versos 9, 10 e 11. Isso significa que cada uma das nações ali representadas ouviu a pregação no seu próprio idioma natal. Isso descarta uma língua de Anjo, o moderno dom de línguas estranhas onde ninguém se entende.
Temos ainda um fenômeno bastante significativo ocorrendo no verso 6 . O autor de Atos, por estilística, troca a palavra γλώσσα pela sinônima Διάλεκτος. As duas palavras possuem a mesma carga semântica por serem sinônimas.
O verso 8 usa a mesma palavra Διάλεκτος acompanhada do verbo adjetivado γεννάω, que tem um sentido de "tornar-se pai" de alguém. A expressão διαλέκτω ήμων έν η έγεννήθημεν seria: "idioma nosso em que [fomos] gerados". Assim, cada um dos ali presentes entendeu a pregação apostólica na língua em que foram gerados, na língua materna.
Soma-se ainda o verso 11, onde cada um daqueles "judeus piedoso vindos de todas as nações debaixo do céu" ouviram falar, em suas próprias línguas maternas, das grandezas de Deus.
Verificamos, portando, que o capítulo 2 de Atos fala do Dom de Línguas como idiomas de nações e não o idioma do céu, idioma de homens e não de anjos.
ATOS 10
Em Atos 10 temos a conversão do Centurião Romano Cornélio. O texto diz que ele era da coorte chamada italiana (v.1); e sendo italiano, seu idioma natal era o latim. Mas o texto também diz que ele morava em Cesaréia, cidade romana construída por Herodes, O Grande, em homenagem a César Augusto. Sua profissão o tornava um homem viajado e, provavelmente, conhecedor de vários idiomas.
Temos ainda as informações de que ele era um homem piedoso, temente a Deus, não só ele mas "toda a sua casa", ou seja, toda a sua família. Por força de seu posto, Cornélio possuia fluência em outros idiomas, pois o diálogo com Pedro e os irmãos que eram da circuncisão (v. 45) fluiu normalmente.
Ao chegar Pedro em Cesaréia, encontrou Cornélio reunido com seus parentes e amigos íntimos (v.24) e eram "muitos reunidos ali" (v.27). Esses "muitos reunidos" era "toda a casa" do Centurião (v.2). Pedro inicia o diálogo (vv.28-43), e podemos imaginar o Apóstolo tentando se fazer entender e uma classe dos reunidos não entendendo o discurso Apostólico.
À partir do verso 44 temos a descrição da manifestação do Dom de Línguas. O texto diz que "caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra", ou seja, toda a casa de Cornélio.
O verso 45 descreve a admiração dos "fiéis que eram da circuncisão" que se admiraram em ver o Espírito Santo também sendo derramado sobre os gentios. Note a expressão "também". Parece uma referência a um outro derramamento do Espírito Santo em que os gentios não se faziam presentes. Uma referência ao Pentecostes. E o sinal era ouvi-los "falando em línguas", como no Pentecostes.
Dois detalhes importantes de serem lembrado. Primeiro: o batismo com o Espírito Santo acontece antes do Batismo das águas, conflitando com o pensamento pentecostal que argumenta um tempo de experiência cristã antes do batismo do Espírito. Segundo: Pedro menciona que a "casa de Cornélio" foi batizada com o Espírito Santo assim como eles o foram no Pentecostes. Ele diz: "... Estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?" (v.47). Os gentios receberam o Dom assim como os Apóstolos no Pentecostes. E no Pentecostes o Dom de Linguas manifestado foi língua de nações e não do céu, língua de homens e não de anjos.
Somando-se a esse argumento, temos o capítulo 11 e o verso 15 onde é-nos dito (palavras de Pedro): "Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no principio". Pedro está argumentando com os irmãos de Jerusalém que, da mesma forma que caiu o Espírito Santo sobre os apóstolos no Pentecostes ("no principio") e o Dom de Línguas foi línguas de nações e não do céu, línguas de homens e não de anjos, da mesma forma foi com a casa de Cornélio. E para completar, temos Atos 15:8 onde Pedro diz que o Espírito Santo cai sobre os gentios como caiu sobre os apóstolos, com a mesma manifestação do Dom de Línguas.
Concluímos que, assim como foi a Manifestação do Dom do Espírito Santo junto com a manifestação do Dom de Línguas no Pentecostes, assim foi em Atos 10. Portanto se em Atos 2 o Dom de Linguas era línguas de nações e não do céu, de homens e não de anjos, assim foi em Atos 10. As linguas foram de homens e de nações para que o Evangelho fosse pregado sem barreiras ou fronteiras.
ATOS 19
Paulo chega a Éfeso (v.1) e encontra ali "alguns discípulos", em número de doze (v.7). Paulo pergunta se eles receberam o Espírito Santo e eles respondem: "... Nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo (v.2). Aqueles discípulos foram batizados no batismo de João (v.3). E Paulo explica: "João realizou batismo de arrependimento" (v.4). Todos os discípulos, tendo ouvido de Jesus (sobre Jesus), "foram batizados em nome do Senhor Jesus" (v.5) e "tanto falavam em línguas como profetizavam" (v.6).
Não é possível ligar a manifestação desse Dom de Línguas com Atos 2, como acontece em Atos 10. Mas há um detalhe significativo no texto. Além de falar em línguas, é-nos dito que também profetizavam. E diferentemente do entendimento geral do que seja um profeta, a bíblia não o qualifica apenas como alguém que vê o futuro. O Dom de profetizar não é ver o futuro. I Coríntios 14:3 nos dá uma luz sobre esse assunto. Paulo descreve a função do profeta: edificar, exortar e consolar.
Ao observar o mapa do Novo Testamento, verifica-se que a Cidade de Éfeso é uma cidade portuária. Havia um comércio muito forte na cidade. Além de tudo era uma cidade religiosa onde havia muitas peregrinações por haver um grande templo dedicado à deusa Diana. Nessa situação, forte comércio e forte afluência de peregrinos, fazia-se necessário a quebra da barreira dos idiomas para que 12 homens pregassem em uma cidade tão cheia de diferentes culturas e línguas. A manifestação do Dom de Linguas junto com o Dom de profecia veio para que a pregação do Evangelho alcançasse uma cidade tão miscigenada.
CONCLUSÃO
Tendo visto as informações contidas nos textos analisados chegamos a algumas conclusões. Primeiro, em Pentecostes os discípulos falaram na língua das nações para que os homens ali presentes, vindo de muitas nações, recebessem a mensagem em suas próprias línguas maternas. Segundo, em Atos 10, com a conversão de Cornélio, e a descrição de Pedro sobre como o Dom do Espírito Santo veio sobre os da casa do Centurião, e como o Dom de Línguas se manifestou aos Gentios naquela evento, similar ao que aconteceu no Pentecostes, concluímos que as línguas faladas também eram idiomas assim como no evento pentecostal. Terceiro, em Atos 19 os doze discípulos recebem o Dom de Linguas para profetizar aos moradores de Éfeso.
Enxergar o Dom de Linguas de outra forma é não ser honesto com o texto que nos foi deixado. Ver Atos 2, 10 e 19 e comparar com o moderno dom de línguas estranhas que se fala nas igrejas de linha pentecostal é notar uma completa distorção do texto.
Francimar Pires
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