QUEM SÃO OS 144 MIL?
QUEM SÃO OS 144 MIL?
INTRODUÇÃO
Eis um assunto das Escrituras que carece de uma análise detida. Temos duas formas de interpretar os 144 mil. A primeira forma é utilizando a ferramenta literalista, que advoga que os 144 mil são literais. A segunda é a forma simbólica, onde se encara os 144 mil como símbolo dos salvos de todas as épocas.
HERMENÊUTICA APOCALÍPTICA
O Apocalipse é um livro imerso em símbolos e imagens que transmitem verdades que vão além dos dados literais. Não significa que todos os elementos são simbllicos, mas que se necessita métodos de averiguação dos dados protéticos.
Os símbolos protéticos expressam sempre um duplo significado, diz John Paulien em sua Hermenêutica da Apocalíptica Bíblica. Ele argumenta que há sempre uma intensão literal, um significado primário, onde o termo assume o sentido comum do uso diário dentro daquele contexto histórico em que o autor estava inserido. A apocalíptica também é resultado do meio histórico-cultural em que foi construída. Há ainda uma segundo intenção, segundo Paulien, que seria o sentido mais amplo, o figurado, o simbólico, o profético, que é uma extensão do literal e aponta para além de si mesmo.
As Regras para uma boa interpretação profética, segundo Paulien são:
(1)"Quando o significado de um símbolo não é provido em uma obra, torna-se importante pesquisar a maneira pelo qual esse símbolo foi usado em outra parte no restante da bíblia e na literatura antiga".
(2)"Outra maneira de interpretar os símbolos é examinar o grau de correspondência entre o quadro evocado pelo símbolo e as limitações do assunto literal do símbolo".
(3)"Quando um símbolo contem tamanha improbabilidade de sua literalidade ou simbolicidade, acaba-se optando pelo provável".
(4)"Quando o contexto transmitir uma improvável interpretação literal ou simbólica, opta-se pelo contexto provável"
(5)"Uso claro de literalidade ou simbolismo em outras partes do livro, a correspondência é feita por analogia".
(6)"Se alguns elementos em um determinado texto ou contexto é literal ou simbólico, segue-se que todos o acompanham em sua literalidade ou simbolismo".
A SIMBOLICIDADE APOCALÍPTICA
Maxwell, em sua obra Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse, diz que "o Apocalipse é tão abundante em símbolos, que sempre é bom nos perguntarmos se um determinado item no livro não seria simbólico em vez de literal".
A maioria dos eruditos em Apocalipse estão, mais ou menos, em comum acordo de que os números na apocalíptica bíblica são carregados de simbolismos. Por exemplo: o número 7 representaria a inteireza, a totalidade, a perfeição; o 4 simbolizaria algo de extensão universal, global, mundial, traz a noção de abrangência; o número 10 inteireza e totalidade; e o 12 unidade na adversidade, totalidade o povo de Deus.
Paulien admite três passos simples para uma boa interpretação profética:
(1) separação de todos os elementos do texto e do contexto próximo e imediato
(2) separação de todos os elementos intertextuais nas entrelinhas
(3) um elemento é simbólico se todos os outros o forem e um elemento é literal se todos os outros o forem a menos que haja elementos de correspondência que indique o contrário
A PROBLEMÁTICA DA LITERALIDADE
Sobre os 144 mil, Maxwell argumenta se "tomarmos o número 144 mil como sendo literal, confrontar-nos-emos com muitas dificuldades". A primeira dificuldade seria que os 144 mil vêm "... de todas as tribos dos filhos de Israel". Ou seja, o Deus inclusivo tornar-se-ia exclusivo ao Israel antigo e literal, pois é fora de lógica interpretativa a primeira parte ser literal (o número dos salvos de 144 mil) e a segunda parte (as tribos dos filhos de Israel) não o serem. Ou todo é simbólico ou tudo é literal. Portanto se a segunda parte é simbólica, a primeira também o seria.
O segundo problema de se enxergar o número 144 mil dos selados como literal é a diferença da lista descrita em Apocalipse 7:4-8 e as listas tribais encontradas em outras partes da Bíblia. Há uma lista em Ezequiel 48 e Gênesis 49. Se a lista de Apocalipse fosse literal, seria essencial que a lista fosse exata à demais listas. A lista de Apocalipse omite-se Dã e Efraim.
Maxwell diz: "Para muitos comentaristas, o número 12 mil atribuído a cada e o número 144 mil, baseado no quadrado de 12, representam plenitude, ou seja, uma promessa de que o povo de Deus nos últimos dias incluirá todas as pessoas que O invocarem por fé e que elas juntas, tornarão a Igreja de Cristo completa, simétrica, gloriosa e linda".
O terceiro problema da literalidade é mencionado por Henry Feyerabend. Se os 144 mil da primeira parte do texto fosse literal e os demais elementos os forem, o elementos do texto de Apocalipse 14:1-5 também o seriam. Ou seja, todos os selados seriam judeus, homens e virgens.
PARALELO ENTRE OS 144 MIL E A GRANDE MULTIDÃO
*144 mil (selados)
7:4 > "...de todas as tribos dos filhos de Israel".
*Grande Multidão (salvos)
7:9 > "... de todas as nações, tribos, povos e línguas..."
*144 mil (selados)
14:1 > "... o Cordeiro... e com ele os 144 mil..."
*Grande Multidão (salvos)
7:9 > "...em pé diante do trono e do Cordeiro..."
*144 mil (selados)
14:3 > "... diante dos quatro seres viventes e dos anciãos..."
*Grande Multidão (salvos)
7:11 > "... Todos [juntos com]... Os anciãos e os quatro seres viventes..."
*144 mil (selados)
14:4 > "... São eles os seguidores do Cordeiro..."
*Grande Multidão (salvos)
7:15 > " e o servem de dia e de noite..."
CONCLUSÃO
A hermenêutica apocalíptica sugere regras fixas e bem definidas para constatações de literalidade ou simbolismo de dados profético. Não está nas mãos do interprete a decisão de definir se determinado elemento profético-apocalíptico seja ou não verificado como sendo ou literal ou simbólico.
Existem problemas graves de resultados interpretativos quanto à literalidade dos números, sobretudo dos 144 mil. A numerologia judaica sugere que os números carregam, em si, uma simbolicidade que vai além do dado literal. Isso significa que, quase sempre, um número, na apocalíptica bíblica, é simbólico.
Existe uma correlação muito próxima entre os 144 mil e a Grande Multidão dos salvos. Essa proximidade dos dois elementos nos deixa margem para sugerir que os dois dados possam se referir ao mesmo significado: a totalidade dos salvos de todas as eras.
Os Adventistas do Sétimo Dia estão inclinados a uma dupla interpretação deste dado apocalíptico: símbolo no capítulo 7 e literal no capítulo 14 (com ressalvas). Em minha modesta visão, dupla interpretação é possível mas pouco provável, pois fere regras já consagradas na interpretação por analogia.
Portanto, concluo defendendo a ideia exposta já na introdução: "Eis um assunto das Escrituras que carece de uma análise detida". Não serei eu que irá por fim a essa questão.
Francimar Pires
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